O
NOVO SINAL
No topo de um alto cume, um peregrino observava o vale. Seus olhos fitavam as sombrias silhuetas dos habitantes da região descortinada diante dele.
Nas
mãos protegia um cálice de néctar sagrado a ser vertido sobre o vale quando
aqueles seres estivessem prontos para conhecer o Bem. Aguardava um sinal.
Tempos atrás outro guardião do cálice vira surgir em alguns pontos do vale, uma luz que revelava a presença da capacidade de amar e vertera parte do néctar. Os poucos que o puderam receber foram alçados a um nível de vida mais plena.
Ali,
ante o peregrino, árvores eram plantadas, árvores eram cortadas. Casas eram
erguidas, casas eram desfeitas. Caravanas acercavam-se do vale, caravanas
afastavam-se dele. Toda a vida do vale desenrolava-se sob seu olhar paciente.
Bem distante, nos limites do horizonte, nuvens pesadas se formaram. Ventos
velozes moviam-nas com força, ruidosamente, mas nem a iminência de tempestade
abalava o peregrino. Sem se mover dali, ele aguardava um sinal.
A
aproximação do mau tempo levou os habitantes do vale a se protegerem. Cada um
zelava pelo que lhe convinha, sem notar que a seu lado havia quem estivesse em
maior desamparo. Mas numa das menores moradias pulsou mais forte um coração de
mãe repleto de brandura. Ao ver uma criança abandonada, recolheu-a, mesmo sem
condições de abrigar adequadamente os próprios filhos. Outros moradores do
vale, tocados pelo que viram, seguiram-lhe o exemplo. Tornaram-se, por sua vez,
semeadores de um estado de ser incomum.
Em pouco tempo a disposição do Bem floresceu. O néctar foi então vertido em maior quantidade. Os ventos mudaram de direção e o sol preencheu o vale com sua luz.
Boletim dos Sinais n.9 - Figueira
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